quinta-feira, janeiro 26, 2006

Os Livros de Dan Brown

Livros: Os Livros de Dan Brown

Os livros do autor norte-americano Dan Brown são um sucesso em todo o mundo, ficamos todos rendidos ao seu livro o Código da Vinci. Este vendeu cerca de 40 milhões de cópias em todo mundo, e está actualmente a ser adaptado em filme pela produtora Columbia Pictures. Posteriormente, foram introduzidos no mercado português outros trabalhos do autor: Anjos e Demónios e a Conspiração. Os fãs deste tipo de literatura aguardam ainda, a tradução nacional do livro Digital Fortress, e a finalização da triologia iniciada pelo autor no livro Anjos e Demónios, e seguida pelo Código da Vinci.

Enquanto que este género literário, dado a conhecer pelo livro O Código da Vinci, ganha um grande número de adeptos em todo o mundo, existem vozes que, talvez pela falta de originalidade ou pura inveja, adoram qualificar as obras de Dan Brown como pouco criativas e repetitivas. Na verdade, todos que começam a ler as suas obras ficam literalmente presos à acção. Os livros de Dan Brown conseguem cativar o leitor, e acima de tudo, revela-nos realidades que nós nem sequer pensamos existir. Eu só encontro adjectivos positivos para descrever a genialidade do autor, que através de obras de ficção, faz-nos pensar sobre o mundo que nos rodeia, alertando-nos para factos, que na nossa vivência do dia-a-dia não prestamos atenção.
É pertinente reflectir sobre os ensinamentos das obras de Dan Brown, que no meu ponto de vista, aparecem bem conjugados com muita acção e mistério:

· O Código da Vinci – Esta obra assenta no mistério que envolve a vida de Jesus Cristo: Será que Jesus Cristo foi casado com Maria Madalena? Será que existe uma linhagem descendente da relação entre Jesus Cristo e Maria Madalena? Tudo isto, é-nos revelado através da existência de uma sociedade secreta designada por Priorado de Sion, que foi passando o seu testemunho ao longo dos tempos, da qual fizeram parte personalidades famosas, dentre as quais Leonardo da Vinci. Certamente que, todos nós, fizemos uma reflexão pessoal sobre todas estas revelações, tendo cada um por si, apreciado a possível veracidade dos factos, e quais as implicações que elas deverão ter nas nossas vidas.

· Anjos e Demónios – Esta obra, para além de nos revelar e explicar de forma exemplar o conceito de antimatéria, também nos alerta para o difícil relacionamento que poderá existir entre o Vaticano e a Ciência. Dan Brown transporta-nos numa viagem pela cidade de Roma e do Vaticano, denunciando a existência de uma seita (os Iluminati) cujo mote era eliminar qualquer obstáculo ao desenvolvimento científico.

· A Conspiração – Centrada sobre o governo dos EUA, a obra tenta mostrar o conflito existente entre a Nasa, enquanto grande consumidora dos recursos do orçamento de estado nos EUA, e os governantes, enquanto representantes do povo. O autor retrata a existência de políticos corruptos, que querem ganhar a todo o custo, comprometendo o desenvolvimento nacional, através da alienação de licenças de exploração sobre o espaço. Por outro, procura mostrar a necessidade que as instituições nacionais têm em justificar a sua existência, chegando a utilizar formas menos licitas para conseguir os seus intentos.

· Fortaleza Digital – O livro desenrola-se em torno da seguinte ideia: quem regula os reguladores? Alertando o mundo para as atrocidades cometidas pelos EUA nos vários conflitos em que esteve presente, podendo ter criado inimigos com grande vontade de vingança, face ao que aconteceu ao seu país, ou às suas famílias. A NSA (National Security Agency), tem tecnologias para decifrar e interceptar todas as mensagens de dados e de voz que existem no mundo. Este livro faz-nos pensar se o desígnio da segurança nacional de um país (EUA), que se intitula como o grande protector do mundo e o maior interessado na luta contra o terrorismo, é suficiente para vermos toda a nossa privacidade devassada, por uns técnicos que podem agir usando critérios arbitrários, camuflando-se na segurança nacional e na arrogância de serem os protectores do mundo.

Na minha opinião, temos muito que aprender com os livros de Dan Brown, o seu trabalho trata de temas que nos fazem pensar sobre o mundo, revelando novas perspectivas, e isto tudo, ao mesmo tempo que estamos a ler uma boa história de acção.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Razões da Crise em Portugal

Economia: Razões da Crise em Portugal


Hoje em dia, é um dado adquirido que a economia nacional não se encontra bem de saúde, existem problemas estruturais graves, que constituem entraves ao nosso desenvolvimento. O caminho a seguir é simples, mas talvez muito penoso e difícil de percorrer.

Se analisarmos o Portugal saído do tão afamado 25 de Abril de 1974, data que constitui um marco na história nacional, constatamos que estávamos atrasados em relação aos nossos congéneres europeus em pelo menos 20 anos. O modelo de crescimento económico que vigorou desde o 25 de Abril, foi assente na mão-de-obra barata, resultante das poucas qualificações que tínhamos, e que continuamos a ter, face aos demais países da Europa (alguns até mais pobres do que nós).

A entrada de capital estrangeiro no país, foi inevitável, ainda mais a partir de 1986, com a entrada do país na então denominada Comunidade Económica Europeia. À medida que a integração europeia se ia consolidando, Portugal tornou-se um país atractivo para o Investimento Directo Estrangeiro, por um lado funcionava como a “porta” de entrada mais barata de produtos na Europa (países não europeus), por outro, como um país de mão-de-obra pouco qualificada e mal remunerada (países europeus). A verdade é que este modelo funcionou, foram criados empregos, as famílias passaram a poder comprar casa e a trocar de carro regularmente, e os sucessivos governos procuraram sempre manter o país “baratinho”, recorrendo muitas vezes à desvalorização monetária para manter a competitividade do país.

A outra face do modelo de desenvolvimento adoptado, foi que teve implicações graves no modelo de organização social do próprio país. Os salários baixos traduziram-se em famílias em que os dois membros do casal tiveram necessidade de trabalhar fora de casa, de modo a contribuir para o escasso orçamento familiar. Pode-se então reflectir, se a falta de acompanhamento familiar de muitas crianças, criadas com a televisão e no ambiente despersonalizado de cresces e infantários, não teve implicações nos adultos que estivemos formar. Será que a baixa qualificação que temos hoje, não resulta de crianças que nunca tiveram uns pais suficientemente disponíveis para a sua educação?

Em Dezembro de 1995, surge mais um passo no sentido da integração europeia, o mais importante desde o tratado Maastricht em 1992 (o que definiu a existência de mercado único europeu), os parceiros europeus começaram a ponderar a adopção de uma moeda única.

Em 1999, as taxas de conversão são fixadas de forma irrevogável, e o governo perde um instrumento que até então funcionava como motor de competitividade nacional. Juntamente com a moeda única, e em prol da competitividade da zona euro, o pacto de estabilidade e crescimento assume relevância, no sentido de proporcionar equilíbrio orçamental na zona Euro, e não permitir processos inflacionistas. O pacto de estabilidade e crescimento torna-se fundamental para a estabilidade do eurosistema, nenhum governo pode constantemente estar a gastar mais do que o que produzia, pois as consequências não são só para si, mas para todos os países integrantes.

Sem querer apontar responsáveis, foi a partir de 1998/99 que se começou a traçar um caminho que vem desembocar na crise orçamental que hoje nos encontramos. Os últimos anos da década de 90, foram épocas de crescimento e prosperidade económica, em que inúmeras famílias conseguiram aumentar o seu rendimento disponível através do recurso ao crédito, aproveitando a baixa de taxas de juro resultantes do processo de criação da moeda única. O governo, que devia acautelar a sua situação orçamental, ou seja, aproveitar épocas de crescimento para pagar a sua dívida, uma vez que o aumento da actividade económica implica aumento de receitas por via dos impostos, teve uma atitude contrária, imitando as famílias. O estado foi despesista e displicente, aumentou o número de efectivos da administração pública, ignorou as ineficiências existentes no funcionamento da máquina do estado, nomeadamente ao nível cobrança de impostos, e acima de tudo perdeu-se a oportunidade de reformular todo o conceito de administração pública, torná-la mais eficiente, mais virada para o bem comum e não para os interesses pessoais de alguns.

Enquanto houve dinheiro, tudo estava bem, as famílias recorriam cada vez mais ao crédito, comprometendo a sua afectação dos rendimentos futuros, mas com um rendimento presente elevado, o que se traduziu num aumento artificial da sua qualidade de vida. O estado assumiu uma atitude despesista, sem nunca acautelar o futuro.

O que acontece actualmente é que as famílias estão cada vez mais endividadas, não conseguindo manter padrões de consumo a que estavam habituadas, situação ainda agravada pelo aumento do desemprego. A função pública é ineficiente, contando com um número grande de funcionários pouco produtivos. O consumo diminui, levando ao não escoamento das produções, as empresas fecham e criam mais desemprego. O estado está de mãos atadas, numa fase em que se devia substituir às famílias no consumo, de modo a impulsionar a economia.

A resposta à crise está nas exportações, a única forma de impulsionar a actividade económica nacional, mesmo assim, não podemos esquecer a crescente concorrência de mercados emergentes, como a China, cuja vantagem preço é inigualável. O alargamento da União Europeia a 25 países, com a entrada de países mais qualificados e com salários mais baixos traz um novo desafio a Portugal.

Portugal está a passar uma fase de mudanças, em que estamos a pagar caro uma atitude passada displicente de sucessivos governos. Esperemos que as coisas mudem rapidamente, mas a crise veio para ficar, por isso temos que apertar o cinto e aguardar que os nossos parceiros comerciais externos comprem produtos “made in Portugal”. Ao mesmo tempo, temos que investir seriamente na educação e inovação, temos que criar coisas novas, diferentes do que os outros fazem, pois já não somos o país da mão-de-obra barata de outrora. Existem outros, mais qualificados e mais baratos do que nós, pelo que nos temos que valorizar.