domingo, junho 01, 2008

EURO 2008 e EXPO 98


Estou a escrever este post no dia em que o avião da TAP está à espera de ordens para levantar com destino à Suiça, o Marcelo Rebelo de Sousa, perito a analisar o fenómeno sociológico que rodeia a selecção, está a dizer as patetices do costume, uns parolos estão gritar pela selecção algures junto do aeroporto e a RTP a transmitir tudo isto. Enfim, nada podia ser pior.

Hoje eu gostaria falar do 10.º Aniversário da Exposição Mundial que se realizou em Portugal no ano de 1998, mais comummente conhecida por EXPO 98, que tem alguma relação com o fenómeno futebolístico, nomeadamente com o EURO 2004 que foi realizado em Portugal. A ligação entre estes dois fenómenos, um cultural e outro popularuxo (eu recuso-me a dizer que o futebol é cultura), é que ambos consumiram grandes recursos nacionais e foram fenómenos de massa.

A EXPO 98 foi um acontecimento cultural sem precedentes em Portugal, tendo permitido a recuperação de uma parte abandonada da cidade de Lisboa. Ainda me lembro de ter usufruído de 3 óptimos dias no parque das nações. Eu com 17 anos, após os exames nacionais para a entrada na faculdade lá fui com mais 2 amigos para a mouraria (nem quero fazer comentários sobre a local escolhido) visitar a grande exposição mundial. O impacto foi tão grande que ainda hoje me lembro de jogar numa slot machine no pavilhão de Macau, de estar em pleno alto mar num barco Croata, de me fascinar com o Aquamatrix, de brincar e aprender no pavilhão da Água, de entrar numa viagem pelo futuro no pavilhão com o mesmo nome, de admirar o Eusébio e a Amália no Oceanário e do espectáculo soberbo com o título Oceanos e Utopias no denominado Pavilhão da Utopia (agora Pavilhão Atlântico).

Nesse dia fiquei fã de Portugal, achei que tínhamos dado um salto para o futuro, tudo estava bem organizado, sentia-se competência e qualidade, senti o orgulho em ser português, em ser dono e um passado glorioso no conhecimento dos mares. Tive um sentimento de tal maneira extraordinário que voltei mais 2 vezes àquele perímetro alheio ao chico esperto sem opinião, maldizente, desdentado e que abre a boca só para dizer um conjunto de impropérios. Mas já se passaram 10 anos deste grande evento, acho que já estamos a precisar de outra exposição mundial, algo que nos faça mais ricos em termos intelectuais, algo positivo.

Aqui é que chegamos ao cerne da questão, o futebol é ‘o que está a dar’. Em nome do futebol gasta-se fortunas, constroem-se uns elefantes brancos (estádios de futebol) que consomem uns milhares de euros todos os meses em manutenção e a população continua a não saber o que se comemora no 25 de Abril, mas sabe na ponta da língua quantos golos o menino Cristianinho (coitadinho que falhou um penalti na final da liga dos campeões) marcou nesta época.

O mundo está ao contrário, a televisão publica gasta o dinheiro dos meus impostos para transmitir em directo a recepção que o presidente da republica fez aos jogadores, filma a chegada ao aeroporto, a partida do avião e daqui a nada mostra a chegada à Suiça. Eu também sou patriota, mas vamos relativizar as coisas, vamos dar importância ao que é importante, eu teria gosto que Portugal fizesse boa figura no europeu, mas preferia que o número de pobres fosse reduzido para metade, que toda a gente tivesse empregos qualificados, que se investisse no desenvolvimento de energias alternativas, que o meu país tivsse uma faculdade no top 100 mundial, tanta coisa onde gastar dinheiro e nós andamos nisto. Até o Marcelo Rebelo de Sousa, tido por muitos como um ícone de cultura nacional, é convidado para comentar a chegada dos jogadores ao aeroporto, e lá formula mais uma das suas teorias baseadas em sonhos mirabolantes em vez de em factos concretos. Eu até o considero um génio da especulação e por vezes acho piada aos filmes que faz, mas ele leva as pessoas atrás dele, ele movimenta massas, o que é perigoso, já que estamos a levar Portugal a acreditar que o futebol é o que interessa.

Queremos outra EXPO já!!! Por favor, vamos colocar a cultura, o conhecimento à frente do futebol. Já realizamos o EURO 2004, agora é a vez de outra exposição mundial, confesso que me dá arrepios quando se fala em realizar o mundial de futebol juntamente com a Espanha. Vamos organizar outra exposição, reabilitar outras cidades portuguesas, vamos colocar os bilhetes a preços acessíveis, vamos premiar a arte de bem-fazer as coisas, 10 anos é muito tempo. Portugal, vamos acordar para o mundo.

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