sexta-feira, dezembro 26, 2008

A problemática dos Mercados Financeiros


Muito se tem falado da crise financeira que teve início no Mercado de Capitais, devido a uma atitude de desconfiança generalizada, o que implicou uma quebra nas expectativas optimistas dos agentes económicos, que passaram a olhar com apreensão para todos os títulos, tentando vislumbrar eventuais dificuldades das empresas. Deixou-se de emprestar dinheiro, com medo de nunca mais o receber, começaram-se a vender os títulos (acções), o que implicou uma redução das cotações, entrando-se num ciclo vicioso.

A problemática que envolve os Mercados Financeiros e todos estes escândalos (caso do Bancos de Investimento Americanos, caso Madoff, caso do Banco Privado Português, etc…) é o do horizonte temporal dos investimentos. A Teoria Financeira prova que no longo prazo (prazos de investimento superiores s 10 anos) o investimento em acções é o melhor dos investimentos, existindo outros instrumentos mais rentáveis para prazos mais curtos (Depósitos a prazo, Obrigações de Caixa, Dívida Pública).

A grande questão é: Porque é que continuam a existir investimentos de curto prazo nos mercados financeiras? Porque é que existem agentes especulativos que continuam a querer tirar vantagens para prazos muito curtos (1 dia, 1 semana, 1 mês, 1 ano…)? A questão é a ganância, o querer ganhar mais, o que os leva a serem os grandes responsáveis pela enorme volatilidade do preço dos activos, o que distorce a própria função do mercado. Ninguém me consegue convencer como é que hoje uma empresa vale X e amanhã vale menos 2 milhões de euros e depois vale mais 8 milhões.

Esta situação, acompanhada pela ileteracia financeira de muitos dos agentes económicos, que confiam grande parte dos seus rendimentos aos negociadores do mercado, implica um efeito bola de neve, em que todo o mercado pensa no curto prazo, agravando-se os momentos de crise (pessimismo do mercado) e de euforia (enorme optimismo).

Existem pelo menos 2 frases célebres sobre este facto: 1) “No longo prazo estamos todos mortos” e 2) “Podemos ter razão no longo prazo, mas podemos morrer no curto prazo”. O problema é que todos os agentes do mercado sabem que devem investir com prazos de investimento longos, mas sofrem pressões para apresentarem resultados no curto prazo, pressões a vários níveis, dos clientes, do chefe, da direcção do banco. O cliente mediano se verificar que o seu gestor (de um fundo de investimento ou private) está a ter uma performance má, quando comparada com os demais, vai entregar os seus investimentos a outro gestor. Se todos os clientes agirem assim, o gestor que até é uma pessoa diligente, que pensa no longo prazo, que não corre riscos desnecessários, fica desempregado. Face a esta consequência, também vai ter um comportamento de curto prazo, pelo menos vai acompanhar os outros.

Vejamos agora um exemplo concreto. Por volta do ano de 1995 apareceu um movimento especulativo ligado às empresas de Internet. Criou-se a ideia que o futuro era o comércio on-line, as empresas que não tivessem um site na Internet iriam desaparecer rapidamente, porque o mundo estava todo voltado para este instrumento. Face a tamanha euforia apareceram uma quantidade grande de empresas ligadas ao negócio da internet, muitas delas eram meros escritórios, sem tecnologia avançada, pouco diferenciadas (muitas delas já nem existem). Estas empresas entraram nos mercados de bolsa para captarem mais capital, para crescerem, o mercado acolheu estas empresas muito bem. Criou-se então a bolha, muitas empresas não valiam nada, não tinham nada de inovador, mas o mito da Internet estava criado, e tinham valorizações diárias enormes. Muito do capital investido noutros sectores estava a ser dirigido para o negócio da Internet, aumentava a procura, aumentava o preço das acções.

O mais curioso deste movimento é que não existia qualquer base de sustentação para o preço pago pelos títulos destas empresas, elas acumulavam prejuízos ano após ano, isto é, destruíam valor. Esta falta de racionalidade era reportada constantemente por vários analistas de mercado, mas ninguém ouvia, e a bolha foi crescendo até ao ano de 2001. Em 2001 a bolha rebentou, houve enormes perdas, muita gente perdeu enormes montantes, finalmente a racionalidade tinha voltado ao mercado.

Um gestor de conta, poderia ser a pessoa mais consciente do mundo, mas não pode ficar alheio a este fenómeno, pois corria o risco de ficar sem trabalho. No curto prazo, as carteiras de investimento em acções ligadas à Internet tiveram grandes valorizações, captando cada vez mais investimentos. Quem ficasse de fora perdia o emprego, no curto prazo o gestor morria, mesmo tendo razão no longo prazo. Face às grandes valorizações, todos queriam entrar e sair antes da bolha rebentar, alguns conseguiram e quem ficou para trás fechou a porta, ou melhor, arcou com os prejuízos.

É preciso repensar as estratégias de investimento nos mercados de capitais, pois os ganhos e as perdas nos títulos cada vez mais se comparam com um jogo de casino. Eu acredito que o mercado de capitais permite afectar os recursos às melhores empresas, o que cria emprego, riqueza e desenvolvimento para toda a economia. A teoria diz que os investimentos devem ser de longo prazo, não entendo porque é que não se proíbe os investimentos especulativos de curto prazo.

A Regulação tem que colocar um fim a esta situação, pois vamos acabar por perder uma das maiores fontes de financiamento das empresas e de criação de valor para as economias. É necessário proibir os investimentos de curto prazo no mercado, estes investimentos não têm inerente qualquer pressuposto económico e são jogos de soma nula (o que uma parte ganha a outra perde).

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