segunda-feira, agosto 27, 2007

Crise Financeira: O Problema do Crédito Subprime

Muito se tem falado da crise do mercado mobiliário e do subprime, mas nem sempre se conseguiu aos mais leigos em matéria económica em que consiste. Eu espero dar um pequeno contributo para a explicação desta matéria.

Primeiramente é necessário definir o que é o subprime e em que é que consiste. O conceito de subprime foi criado recentemente nos Estados Unidos e serviu para classificar crédito de elevado risco. Isto é, as instituições financeiras começaram a conceder crédito a pessoas, que numa situação normal não tinham acesso a esse crédito, uma vez que não possuíam rendimentos suficientes.

Esta situação só foi possível devido às taxas de juro historicamente baixas, que por um lado permitiu que os bancos tivessem acesso a recursos a taxas muito baixas, o que permitiu que as prestações do crédito habitação fossem reduzidas.

Se juntarmos a este cenário a elevada concorrência bancária, em que o importante era captar novos clientes, negligenciando o risco anexo ás operações de crédito, verifica-se que os bancos não se fizeram remunerar pelo elevado risco (isto é, quanto maior o risco maior a taxa de juro - spread cobrado aos clientes). O que se verificou é que um empréstimo de elevado risco (com forte probabilidade de o cliente deixar de pagar) e os de menor risco apresentavam taxas de juro idênticas, violando qualquer regra de boas práticas.

Assim foi possível vender o sonho de ter uma casa a muita gente, ganhando os bancos (as margens foram reduzidas, mas muita gente tinha crédito) os construtores civis (o mercado imobiliário teve um boom nos EUA, quem já tinha casa começou a pensar em comprar a segunda) e os consumidores (podiam sonhar em ter habitação própria e outros a sua casa de férias).

Tudo ia bem, mas apareceu o bicho da inflação, com tanto dinheiro e tão facilmente obtido, os preços começaram a aumentar. Primeiramente o preço das habitações, que depois se generalizou por toda a economia. Quem tinha empréstimos, devido à descida da taxa de juro, começou a consumir mais, pois o peso da prestação era menor, as importações de bens aumentou, a economia ficou desequilibrada. Houve necessidade de começar a arrefecer esta febre de consumo, através do aumento das taxas de juro.

As pessoas deixaram de poder pagar os empréstimos, entrando os bancos em dificuldades e agindo sobre as hipotecas das habitações. Neste momento, o problema é real, os bancos começam a exercer as hipotecas, o que vai levar que o mercado seja inundado por casas, o que se traduzirá na redução dos preços da habitação. Os juros mais elevados e a promessa de aumentos maiores não incentiva as pessoas a adquirirem casas, mesmo a preços mais baixos, por outro quem tem créditos começa a ver o valor das suas casas reduzido, sendo racional deixar de pagar o empréstimo ao banco (não vou pagar 100 pelo que vale agora 70, o banco que fique com a casa que eu posso comprar uma igual a um preço menor). Esta situação entra num ciclo vicioso, baixando ainda mais o preço das casas e a crise está instalada e toda a economia sofre.

Mas o problema são dos camones, não é nosso?

Certamente já ouvimos falar de quando os Estados Unidos espirram o resto do mundo fica constipado, infelizmente é verdade. Isto deve-se ao facto de os mercados financeiros estarem globalizados e a economia americana ser a mais pujante do mundo. O dinheiro não tem pátria e ninguém garante que não fomos nós com o nosso dinheiro que financiamos as casas dos americanos.

Primeiramente é necessário falar de um instrumento / produto financeiro utilizado pelos bancos, a Titularização de Créditos. A titularização de créditos consiste na venda de créditos pela instituição a terceiros, neste caso aos investidores. Esta operação consiste em pegar num conjunto de empréstimos e vender a quem quiser comprar. Quem quiser investir em crédito hipotecário compra títulos que corresponde a uma percentagem dos rendimentos desse conjunto de empréstimos. Os bancos passam a meros gestores, cobram as dívidas e depois entregam o dinheiro às pessoas que compraram os títulos, cobrando uma comissão pelo serviço. Assim o risco de não pagamento passou para os investidores e não está no banco.

Normalmente associamos a investidores todos aqueles que têm grandes quantidades de dinheiro, mas a verdade é que somos todos nós. Eu, enquanto pequeno aforrador, posso estar exposto a estas actividades de elevado risco de várias formas: quando invisto num fundo de investimento, quando compro acções de instituições financeiras (banca e seguros) ou outras empresas com excedentes que tenha investido nestes produtos, quando o meu banco vai à falência (quer por via dos empréstimos de subprime, quer por ter investido parte dos excedentes em títulos de subprime).

A verdade é que os títulos referentes a empréstimos subprime encontram-se espalhados por todo o mundo, nada garante que instituições portuguesas não tenham investido nesses títulos e estejam a ter grandes perdas. O que começou como um bom negócio nos EUA está a espalhar-se por todo o mundo. Mas não nos podemos esquecer que enquanto tudo funcionou, isto é as pessoas pagavam os empréstimos, estes fundos tinham grande rendibilidade e revelaram-se um óptimo investimento e acima de tudo era um produto inovador, os investidores sem serem instituições financeiras podiam investir em crédito hipotecário. Mas a verdade é que os riscos associados a estes empréstimos / investimentos estavam subavaliados e o que parecia um óptimo investimento tomou-se num negócio ruinoso.

O que fazer agora?

O que se tem a fazer é esperar, já que não se sabe as dimensões das perdas. Ninguém quer revelar a dimensão deste problema. O que se sabe é que dois fundos de investimento que investiam em empréstimos subprime deixaram de negociar, os bancos centrais andam a emprestar grandes montantes de dinheiro aos bancos comerciais para fazerem face à crise e poderem pagar a alguns depositantes (que já não acreditam na solidez do seu banco), as cotações das acções das instituições financeiras caíram levando consigo outras empresas.

Depois do susto do subprime, o sistema financeiro vai sofrer alterações, principalmente na avaliação dos riscos de crédito e o mercado vai olhar com desconfiança para a sua titularização. Para bem de todos nós, esperemos que esta crise passe simplesmente por uns despedimentos e umas multas das entidades reguladoras, pois todos nós precisamos de um sistema financeiro que nos dê segurança e confiança, senão teríamos de voltar todos a colocar o nosso dinheiro debaixo do colchão e comprar casa própria e carro aos 50 anos, na melhor das hipóteses.
Daniel Silva

1 Comments:

At segunda-feira, outubro 29, 2012 8:01:00 da tarde, Blogger Th. said...

Ótimo post, me esclareceu bastante! :)

 

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