terça-feira, julho 01, 2008

A Porra dos Subsídios


Cada vez ando mais chateado com o andamento da economia mundial e com o comportamento dos agentes económicos dos países desenvolvidos. Vivemos numa época de crise, consubstanciada na alta do preço dos combustíveis, falta de alimentos, alta das taxas de juro, desemprego, etc. Face a isto, lá aparece mais uma classe profissional a reclamar por um subsídio, primeiramente os pescadores, depois os camionistas e agora os agricultores.

O subsídio é o que pior pode acontecer a uma economia, pois o custo efectivo de produção dos bens não é reflectido no preço, o que leva a desequilíbrios no consumo e na produção. Actualmente estamos a viver a revolta do subsídio.

A causa da crise mundial alimentar está no subsídio e não na utilização dos cereais na produção de bio-combustíveis, nem no aumento do consumo na Índia e na China. É sabido que grande parte dos orçamentos da União Europeia e dos Estados Unidos da América é gasto em subsídios à agricultura.

Na Europa existe a Política Agrícola Comum (PAC) que tem os seus primórdios no pós 2.ª Guerra Mundial, em que as actividades agrícolas foram substituídas pela indústria bélica. Vivia-se numa época de escassez de alimentos, pelo que os incentivos eram bem-vindos. No entanto, a produção agrícola cresceu tanto que se tornou um problema, começou-se a criar quotas e a subsidiar os agricultores para não produzirem. Ainda me lembro de ir à aldeia com os meus país e ver os agricultores a quererem comprar mais terras para nada produzirem nelas e para receberem o tal subsídio. Os subsídios mantiveram o preço dos produtos em níveis extremamente baixos, impossíveis de alcançar sem o dito, levando a Europa (grandes latifundiários Espanhóis, Franceses e Alemães) a competir no mercado internacional com preços excepcionais. Actualmente, a PAC é um fracasso, cada vez absorve mais dinheiro do orçamento europeu e a agricultura europeia é pouco eficiente e criadora de desequilíbrios mundiais. O mesmo aconteceu no outro lado do oceano, os Estados Unidos da América também subsidiaram as suas produções e os preços nos mercados internos e internacionais estiveram em níveis extremamente baixos, pois a produção visava aumentar o subsídio recebido e não satisfazer a procura.

Os agricultores europeus estavam contentes e os americanos também e tudo ia bem neste globo bipartido em que o Japão de vez em quando também tem uma palavra a dizer. O problema apareceu no mundo subdesenvolvido, que se debate com a falta de recursos e/ou o favorecimento de uma elite em relação à maioria da população. A produção agrícola nestes países deixou de ser rentável, os preços altamente subsidiados levou á ruína dos agricultores, que de produtores passaram a consumidores. Por exemplo, o Haiti na década de 70 era auto-suficiente na produção de arroz, agora apresenta um défice comercial brutal e face à nova conjuntura de alta dos preços, existem pessoas a passar neste país . Outro exemplo flagrante são as ajudas ao desenvolvimento, os Estados Unidos da América fornecem milhares de géneros alimentícios aos países pobres, estes alimentos são comprados aos agricultores americanos e depois dados aos países pobres. Face a esta situação, não existe agricultura que resista nestes países, muito pelo contrário. O mais escandaloso é que o transporte destes alimentos é mais dispendioso do que os potenciais apoios necessários à manutenção de um nível de produção aceitável nestes países. O objectivo é destruir a produção agrícola nestes países, torná-los dependentes das grandes economias em vez de os ajudar a serem auto-suficientes, ou menos dependentes e serem capazes de responder às crises. As (poucas) estruturas produtivas destes países em subdesenvolvimento estão destruídas e actulamente a fome está instalada. A agricultura no mundo subdesenvolvido foi abandonada há muito tempo.

O cenário actual foi criado pelo subsídio, não existe uma ordem global, mas sim os países ricos a produzirem tudo e os pobres sem qualquer espaço para se afirmarem. Os sectores alimentares são os únicos em que eles poderiam rivalizar e lutar por um lugar na ordem internacional, mas estão condicionados pelos subsídios.

O subsídio é uma doença que nos consome, quanto mais temos mais queremos, o subsídio não deixa o mercado funcionar. Vejamos o exemplo dos subsídios aos combustíveis, leva a que o consumo não seja racional, as pessoas vão consumir mais do que o que devem e o preço limita o investimento em energias alternativas. Ninguém vai investir na criação de novas energias se o crude tiver um preço baixo, pois nunca se irá recuperar o esforço do investimento. O subsídio leva ao excesso de carros na estrada (exemplo da Venezuela), não permite o desenvolvimento de um sistema de transportes públicos, leva a uma redução da qualidade de vida das pessoas.

O preço é a melhor ferramenta para a inovação e para o investimento. Preço elevado quando existe escassez e preço reduzido quando existe excesso. O mercado ao funcionar, os recursos vão ser utilizados na produção dos bens escassos e abandonados os bens onde existe excesso de produção. Se o preço fosse livre, o agricultor Haitiano podia continuar com a sua cultura e até aumentar a sua produção, não se verificando a falta de alimentos e passava a existir uma verdadeira economia neste país, que deixava de depender dos tão “bem intencionados” americanos.

Vamos acabar com os subsídios, são injustos, imorais e pouco dignos para todos. Se as matérias-primas estão mais caras, o preço tem que reflectir isso. Mais tarde ou mais cedo alguém tem que pagar e não são os pobres é o mundo. As potências mundiais destroem as economias locais dos mais pobres e depois criam regras restritivas à emigração e falsos apoios ao desenvolvimento, que mais não são do que meios para conseguir os seus intentos. Mas afinal que mundo é que estamos a criar.

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