sábado, julho 08, 2006

O Barbeiro

Sociedade: O Barbeiro

Hoje fui cortar o meu cabelo. Quando saí da barbearia, senti que vinha mais rico em alguma coisa. Não foi na carteira, porque paguei 8 euros, logo estava mais pobre em 8 euros, mas rico em experiência de vida. As conversas que se tem com o barbeiro, quando estamos a cortar o cabelo, podem ser muito enriquecedoras, e hoje eu tive uma experiência dessas, quando dei por mim levava uma mão cheia de conhecimentos e conselhos para casa.

Eu acho que não fui ao barbeiro, eu fui a uma sessão de um psicólogo, e só paguei 8 euros, mais ao menos como uma daquelas promoções de champô, leve 2 e pague 1. Impressionante como ele conhece sempre alguém parecido connosco, que já se deparou com os mesmos dilemas e que foi bem sucedido na sua resolução. As frases que mais se ouvem são: “ Eu conheço um gajo …”, “ Eu tenho um colega …”, “ Um cliente fez …”, “Um vizinho, que tu deves conhecer (mas eu nunca conheço ninguém, apesar de morarmos na mesma freguesia) …”. Fiquei fascinado com tudo aquilo, ele percebe de futebol, de como comprar um carro na Alemanha, de férias, sistemas de saúde privados e até de como fugir aos impostos. Os assuntos nunca morrem e sucedem-se com uma rapidez que quando dei por mim já tinha o cabelo cortado.

A personagem do barbeiro funciona como um elo entre os membros de uma sociedade. Ele troca experiências dos seus clientes, quem sabe se o meu humilde contributo não irá ser transmitido ao próximo cliente. Estive perante um mestre na arte da conversa, um transmissor nato de conhecimentos.

Imaginem se tivéssemos de pagar por isto? Certamente que já não conseguiríamos cortar o cabelo por 8 euros. Ainda bem que ele ainda não se apercebeu que oferece mais que um corte de cabelo. Já agora, será que nós estamos dispostos a despender mais dinheiro em troca de uma conversa? Uma coisa tenho a certeza, a mim conquistou-me, fiquei cliente faz algum tempo.

quinta-feira, julho 06, 2006

A Origem do Sub-Desenvolvimento em Portugal

Economia: A Origem do Sub-Desenvolvimento em Portugal

Este novo artigo que venho aqui apresentar tenta explicar como um país tão rico, influente e conhecedor das novas tecnologias, durante a época dos Descobrimentos, chega ao século XXI como um dos mais pobres da União Europeia.

A verdade é que Portugal no século XV e XVI era um pólo aglutinador do conhecimento mundial, principalmente quando se tratava do conhecimento dos mares. No território nacional encontravam-se os maiores mestres da navegação, e enganem-se aqueles que pensam que eram só portugueses, nada disso, havia entre os maiores mestres, espanhóis, italianos e titulares de outras nacionalidades. Este pequenos país atraía conhecimento, atraía cérebros, daí a grandeza do nosso povo.

Nesta multiplicidade cultural é que nasceu o “ilustre povo lusitano”, que foi capaz de ir em busca do novo mundo, inventando novos instrumentos de navegação, novos tipos de embarcações, fez avanços notáveis na cartografia, tornando-se num grande império. Afinal, o segredo da supremacia nacional estava assente em valores que hoje consideramos fundamentais: como a tolerância, a aceitação das diferenças, a negação do racismo e a igualdade. Foi este facto que nos distinguiu dos nossos congéneres dos descobrimentos, os espanhóis.

Enquanto os reis católicos castelhanos perseguiam os judeus, os portugueses davam-lhes tecto. Os judeus, para além de um povo estudioso, eram detentores de grandes conhecimentos, abrindo as portas para a hegemonia portuguesa.

Mas, no final do século XV, as coisas mudaram, o rei D.Manuel I começou a desejar tornar-se o rei de toda a península ibérica, o que implicaria o seu casamento com uma filha dos reis católicos. A própria noiva católica impôs uma condição: a expulsão dos judeus.

A ganância e a vontade de ser rei da península ibérica ditaram as acções do monarca nacional. No entanto, sabendo da importância dos judeus, ele tentou enganar a realeza espanhola, baptizando 70 mil judeus portugueses, que passaram a chamar-se cristãos-novos. Embora cristãos, continuaram a professar a sua religião original. Como consequência foram perseguidos e mortos muitos judeus (a título de exemplo pode-se referir o massacre de Lisboa em 1506 que durou 3 dias- como consequência homens, mulheres e crianças, foram torturados, massacrados, violados e queimados em fogueiras improvisadas no Rossio). A comunidade estava em pânico, o que originou a fuga de muitos judeus do país, que levaram consigo muito do património intelectual existente na altura.

As acções de intolerância e de racismo continuaram, e Portugal ficou cada vez mais fechado ao exterior. Os textos científicos tornaram-se proibidos, a educação passou a ser controlada exclusivamente pela igreja e o país mergulhou na ignorância. No seguimento dos massacres, do clima de crescente Anti-Semitismo em Portugal e do estabelecimento da Inquisição - o tribunal da Inquisição entrou em funcionamento em 1540 e perdurou até 1821 - muitas famílias judaicas fugiram ou foram expulsas do país.


Como se pode constatar, a falta de valores como a tolerância e a aceitação dos outros pode custar caro a um país e a uma sociedade. A multiplicidade cultural é uma riqueza, atitudes etnocentricas só causam subdesenvolvimento.