sexta-feira, dezembro 26, 2008

A problemática dos Mercados Financeiros


Muito se tem falado da crise financeira que teve início no Mercado de Capitais, devido a uma atitude de desconfiança generalizada, o que implicou uma quebra nas expectativas optimistas dos agentes económicos, que passaram a olhar com apreensão para todos os títulos, tentando vislumbrar eventuais dificuldades das empresas. Deixou-se de emprestar dinheiro, com medo de nunca mais o receber, começaram-se a vender os títulos (acções), o que implicou uma redução das cotações, entrando-se num ciclo vicioso.

A problemática que envolve os Mercados Financeiros e todos estes escândalos (caso do Bancos de Investimento Americanos, caso Madoff, caso do Banco Privado Português, etc…) é o do horizonte temporal dos investimentos. A Teoria Financeira prova que no longo prazo (prazos de investimento superiores s 10 anos) o investimento em acções é o melhor dos investimentos, existindo outros instrumentos mais rentáveis para prazos mais curtos (Depósitos a prazo, Obrigações de Caixa, Dívida Pública).

A grande questão é: Porque é que continuam a existir investimentos de curto prazo nos mercados financeiras? Porque é que existem agentes especulativos que continuam a querer tirar vantagens para prazos muito curtos (1 dia, 1 semana, 1 mês, 1 ano…)? A questão é a ganância, o querer ganhar mais, o que os leva a serem os grandes responsáveis pela enorme volatilidade do preço dos activos, o que distorce a própria função do mercado. Ninguém me consegue convencer como é que hoje uma empresa vale X e amanhã vale menos 2 milhões de euros e depois vale mais 8 milhões.

Esta situação, acompanhada pela ileteracia financeira de muitos dos agentes económicos, que confiam grande parte dos seus rendimentos aos negociadores do mercado, implica um efeito bola de neve, em que todo o mercado pensa no curto prazo, agravando-se os momentos de crise (pessimismo do mercado) e de euforia (enorme optimismo).

Existem pelo menos 2 frases célebres sobre este facto: 1) “No longo prazo estamos todos mortos” e 2) “Podemos ter razão no longo prazo, mas podemos morrer no curto prazo”. O problema é que todos os agentes do mercado sabem que devem investir com prazos de investimento longos, mas sofrem pressões para apresentarem resultados no curto prazo, pressões a vários níveis, dos clientes, do chefe, da direcção do banco. O cliente mediano se verificar que o seu gestor (de um fundo de investimento ou private) está a ter uma performance má, quando comparada com os demais, vai entregar os seus investimentos a outro gestor. Se todos os clientes agirem assim, o gestor que até é uma pessoa diligente, que pensa no longo prazo, que não corre riscos desnecessários, fica desempregado. Face a esta consequência, também vai ter um comportamento de curto prazo, pelo menos vai acompanhar os outros.

Vejamos agora um exemplo concreto. Por volta do ano de 1995 apareceu um movimento especulativo ligado às empresas de Internet. Criou-se a ideia que o futuro era o comércio on-line, as empresas que não tivessem um site na Internet iriam desaparecer rapidamente, porque o mundo estava todo voltado para este instrumento. Face a tamanha euforia apareceram uma quantidade grande de empresas ligadas ao negócio da internet, muitas delas eram meros escritórios, sem tecnologia avançada, pouco diferenciadas (muitas delas já nem existem). Estas empresas entraram nos mercados de bolsa para captarem mais capital, para crescerem, o mercado acolheu estas empresas muito bem. Criou-se então a bolha, muitas empresas não valiam nada, não tinham nada de inovador, mas o mito da Internet estava criado, e tinham valorizações diárias enormes. Muito do capital investido noutros sectores estava a ser dirigido para o negócio da Internet, aumentava a procura, aumentava o preço das acções.

O mais curioso deste movimento é que não existia qualquer base de sustentação para o preço pago pelos títulos destas empresas, elas acumulavam prejuízos ano após ano, isto é, destruíam valor. Esta falta de racionalidade era reportada constantemente por vários analistas de mercado, mas ninguém ouvia, e a bolha foi crescendo até ao ano de 2001. Em 2001 a bolha rebentou, houve enormes perdas, muita gente perdeu enormes montantes, finalmente a racionalidade tinha voltado ao mercado.

Um gestor de conta, poderia ser a pessoa mais consciente do mundo, mas não pode ficar alheio a este fenómeno, pois corria o risco de ficar sem trabalho. No curto prazo, as carteiras de investimento em acções ligadas à Internet tiveram grandes valorizações, captando cada vez mais investimentos. Quem ficasse de fora perdia o emprego, no curto prazo o gestor morria, mesmo tendo razão no longo prazo. Face às grandes valorizações, todos queriam entrar e sair antes da bolha rebentar, alguns conseguiram e quem ficou para trás fechou a porta, ou melhor, arcou com os prejuízos.

É preciso repensar as estratégias de investimento nos mercados de capitais, pois os ganhos e as perdas nos títulos cada vez mais se comparam com um jogo de casino. Eu acredito que o mercado de capitais permite afectar os recursos às melhores empresas, o que cria emprego, riqueza e desenvolvimento para toda a economia. A teoria diz que os investimentos devem ser de longo prazo, não entendo porque é que não se proíbe os investimentos especulativos de curto prazo.

A Regulação tem que colocar um fim a esta situação, pois vamos acabar por perder uma das maiores fontes de financiamento das empresas e de criação de valor para as economias. É necessário proibir os investimentos de curto prazo no mercado, estes investimentos não têm inerente qualquer pressuposto económico e são jogos de soma nula (o que uma parte ganha a outra perde).

Etiquetas: , , , , , ,

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Natal...Tempo de Vida


Hoje queria compartilhar convosco uma experiência que me marcou muito. O assunto, desta vez, é outro, vou sair da esfera económica e vou passar a escrever sobre a parte social. Muitos dos leitores já devem estar a dizer “…finalmente, o gajo não percebe mesmo nada de economia”. Como já devem ter reparado sou uma nulidade a fazer previsões, se eu ganhasse uma pipa de massa teria certamente o Paulo Portas a pedir a minha demissão. Depois da descompressão inicial, segue então uma reflexão sobre o tema “ Natal… Tempo de Vida”.

Este ano decidi viver de maneira diferente a quadra natalícia, senti a necessidade de me entregar mais aos outros, de sair do meu mundo dourado e ajudar um pouco os mais desfavorecidos. Deste modo, conheci o projecto Natal +, que basicamente consistia em visitar 2 lares na minha freguesia. Escusado será dizer que esta experiência foi extremamente marcante para mim.

Descobri que com muito pouco se pode fazer muito, através de uma visita conseguimos levar alegria às pessoas idosas e abandonadas. Basicamente, o que fizemos foi dar o nosso tempo, que tantas vezes desperdiçamos numa fila de trânsito, a ver um filme, a praticar desporto ou a decorar a casa para o natal. Nós estamos sempre tão atarefados com as nossas coisas, que nos esquecemos das formas como podemos valorizar tanto a nossa existência. Representamos, cantamos e rezamos, coisas tão simples e ao mesmo tempo cheias de significado para aquelas caras atentas e fascinadas. Naquele espaço não havia distinções, ninguém sabia quem eram os doutores, os engenheiros, os estudantes, os catequistas, os catequizandos, os alunos, os mestres, os jovens e os menos jovens… havia a vontade, o acreditar na construção de uma sociedade mais justa, menos deitada ao abandono.

Quantas daquelas caras foram pessoas importantes na sua juventude, quantas daquelas pessoas tomavam decisões importantes, quantas foram solidárias com os outros. O presente actualmente para elas é de descanso, é de espera por aquela visita especial e para algumas nem precisa de ser especial … desde que seja uma visita de um rosto desconhecido, desde que lhes permita conversar ou até mesmo olhar, saber que existe um mundo do lado de fora, que não os deixa ao abandono, ao esquecimento. Tantas vezes vemos na opulência, nos bens materiais a nossa felicidade, mas a verdade é que mais tarde ou mais cedo essas coisas deixam de ser importantes para nós… trocamos todos os nossos bens por uma palavra, por um reconhecimento, por um consolo. Aprisionados num corpo doente e com uma mente pouco lúcida não somos nada, somos seres alheios aos carros, às viagens, aos empregos, queremos é companhia e algum conforto, uma palavra consegue substituir todos os bens que conseguimos juntar durante toda a nossa existência.

Gostaria também de dar os parabéns e de reconhecer o trabalho notável que está a ser feito pelas pessoas que gerem as instituições que fomos visitar. Pessoas maravilhosas, com um coração muito bondoso, cheio de caridade… ainda bem que existem pessoas assim. Pensava eu que já fazia muito em apoiar em termos financeiros algumas obras… mas o que faço são simples migalhas comparando com a entrega destas pessoas à obra que gerem. Senti o amor, a dedicação e a compreensão. Não existem palavras para a sociedade lhes agradecer todo este trabalho, todas as boas obras. Muito obrigado por todo o vosso esforço.

Tive uma lição de vida com todas estas visitas… é caso para dizer “do pó vieste, ao pó voltarás”, será que vale a pena todas as nossas inimizades, tanta ambição, será que estamos a dar o real valor ao nosso tempo. Fica a reflexão para este Natal.

Um óptimo Natal para todos.
Daniel Silva

terça-feira, setembro 30, 2008

Salvem a Bolsa !!!


Muito se tem falado da crise bolsista que assolou os Estados Unidos da América, mas pouco se tem dito sobre as verdadeiras consequências deste problema. Primeiramente é preciso referir que pouca gente ficará imune a esta crise. Vivemos numa era da democratização dos produtos financeiros, quase todos nós investimos em acções, obrigações, fundos de investimento, planos poupança reforma, certificados de aforro, depósitos bancários, etc…, logo estamos expostos a este problema que poderá ter consequências muito nefastas.

A livre circulação de capitais é um facto em 2008, milhares de milhões de euros, dólares, libras e ienes são transaccionados à escala planetária. O capital é apatriado, hoje os bons negócios, as boas empresas escolhem-se em função do projecto em si e nunca do país de origem (desde que seja um país minimamente desenvolvido). A Walt Disney tem capital maioritariamente japonês, a Mercedes Benz é dominada pelos americanos da Daimler e muitos exemplos se podiam dar.

Perante isto custa-me ouvir as palavras da chanceler alemã Angela Merkel a dizer que o problema é dos americanos e eles é que o têm que o resolver, ou então a ala mais conservadora dos Estados Unidos a dizer que são os impostos que vão pagar a ganância dos banqueiros mundiais. Em parte esta afirmação não deixa de ser verdadeira e também é um facto que o mercado por si só resolve de forma drástica o problema actual, mas com elevados custos. A questão aqui não é resolver o mal, mas sim encontrar o mal menor.

Se não se fizer nada o problema resolve-se, sobrevivem as melhores empresas, as mais previdentes, as que mostraram capacidade de criar mecanismos de resolução deste problema. Mas a questão é que o sector bancário e do mercado de capitais não é um sector normal, como o sector do vestuário. Um banco indo á falência arrasta muitas pessoas, não só os seus accionistas, mas os seus clientes e os clientes dos outros bancos, o que designa por risco sistémico (efeito dominó).

Vamos supor que um banco vai á falência em Portugal, o que acontece depois é um total descrédito de todo o sistema bancário, as pessoas com medo de ficar sem as suas poupanças vão levantar todo o dinheiro depositado, como um banco tem o dinheiro das pessoas investido não vai poder satisfazer todas as solicitações e também irá à falência e vai-se entrar num ciclo onde existirá enormes perdas para todos.

Ao se apresentar soluções, como o empréstimo do estado americano aos bancos e instituições financeiras estamos a salvar as poupanças de uma vida de milhares de pessoas e evitar que a crise se alargue a outros sectores da economia, pois poucas são as empresas auto-suficientes em termos financeiros. Um crash mundial levaria a perdas elevadíssimas, os nossos fundos de investimentos, os planos poupança reforma, as acções, as obrigações, as poupanças de uma vida, passariam a não valer nada. Não estamos a falar das grandes fortunas dos capitalistas, mas sim das poupanças do cidadão médio.

Este empréstimo irá ajudar a criar liquidez dos mercados, irá permitir aos bancos arrumar a casa. Estaremos a salvar os capitalistas gananciosos que estiveram na origem desta crise, mas também a salvar as pequenas poupanças.

Depois de passado o ponto crítico, acredito que nada irá ficar como dantes, irão ser tomadas medidas para prevenir / evitar situações semelhantes e espero que o sistema financeiro fique mais sólido e forte, pois é a base do progresso e do desenvolvimento.

Etiquetas: , ,

domingo, setembro 28, 2008

A Nova Revolução


Depois de escrever sobre os mais variados temas, neste momento apetece-me ser um profeta da mudança e elencar um conjunto de pontos que demonstram a entrada de uma nova era, em que nada irá ser igual.

Como já devem ter reparado eu sou um liberal assumido, defendo que o mercado deve funcionar e que o estado deve manter-se o mais afastado possível, pois acredito que o estado nunca consegue fazer melhor que o próprio funcionamento do mercado e da economia, muito pelo contrário, até introduz distorções ao seu funcionamento e depois surgem os problemas (ver o caso dos subsídios no último post).

Mas como referi anteriormente, nada irá ser como dantes, estaremos perante uma nova revolução industrial…

· O tempo do petróleo barato acabou, vamos ter que investir em novas fontes de energia. A ordem mundial vai-se alterar, existem países que viviam exclusivamente do petróleo e que já estão a investir em outros sectores (ex: Emirados Árabes Unidos estão a apostar no turismo). Portugal tem que investir em fontes de energia alternativa, começamos a ver na paisagem nacional várias centrais de produção de energia eólica. O futuro é diminuir a factura energética nacional ao máximo e uma vez que não temos petróleo, vamos aproveitar o país solarengo, ventoso e plantado à beira mar.

Aproveito para lançar uma profecia apocalíptica: o petróleo está a acabar, as reservas mundiais estão a chegar ao fim, a extracção de petróleo está quase a tocar o máximo da capacidade mundial. Desengane-se quem acredita na descoberta de novos poços de petróleo, já foram todos descobertos, a tecnologia da NASA, através de radiografias aéreas (identifica a densidade da crosta terrestre), já identificou todos os poços potenciais existentes no planeta. Não vai ser descoberto mais nenhum poço que garanta a energia por mais 200 anos. Com o fim dos poços mais superficiais (o que já aconteceu), o preço vai subir (nunca mais teremos petróleo a menos de 100 dólares) de modo a ser rentável explorar os outros de mais difícil acesso, até chegarmos ao ponto de ruptura.

· A crise bolsista sem precedentes, que se explica em uma palavra: ganância. A organização económica mundial vai ter que mudar, não dá para acreditar como é que se chegou a tanto, como é que se permitiu que se pudesse emprestar dinheiro com tanta facilidade, sem saber da real capacidade das pessoas pagarem as casas. Já havia sinais de alarme há muito tempo, mas enquanto toda a gente ganhou foi óptimo, o pior foi depois. Novo facto mundial: os EUA a pedir ajuda ao resto do mundo, será possível? Vamos esperar que este nosso cantinho à beira mar fique imune aos vendavais que vêm do oceano atlântico. Mas o que tem de mudar? O sistema tem de mudar, a visão de curto prazo tem que ser alterada, os bancos que foram à falência tiveram excelentes resultados a curto prazo, os seus gestores receberam prémios de desempenho grandiosos e nunca os grandes bancos tiveram um crescimento tão grande, enfim tudo ia bem.

· A crise alimentar é outro facto. Felizmente que existe comunicação social, felizmente que conhecemos outras realidades, felizmente que podemos ajudar os mais pobres. Mas nada disto funciona, não estamos dispostos a pagar o preço justo pelos bens, continua o hemisfério norte (ditos desenvolvidos) a explorar o hemisfério sul. Este tema dá pano para mangas, mas fica para outra ocasião.

Estes 3 pontos são cruciais nesta nova era, tem-se que pensar nos erros cometidos, temos que reformular a forma de organização mundial. O mundo vai mudar, é um facto, será que seremos agentes da mudança ou seremos apanhados por ela.

Para reflexão - A palavra crise em chinês também significa oportunidade.

Etiquetas: , , ,

terça-feira, julho 01, 2008

A Porra dos Subsídios


Cada vez ando mais chateado com o andamento da economia mundial e com o comportamento dos agentes económicos dos países desenvolvidos. Vivemos numa época de crise, consubstanciada na alta do preço dos combustíveis, falta de alimentos, alta das taxas de juro, desemprego, etc. Face a isto, lá aparece mais uma classe profissional a reclamar por um subsídio, primeiramente os pescadores, depois os camionistas e agora os agricultores.

O subsídio é o que pior pode acontecer a uma economia, pois o custo efectivo de produção dos bens não é reflectido no preço, o que leva a desequilíbrios no consumo e na produção. Actualmente estamos a viver a revolta do subsídio.

A causa da crise mundial alimentar está no subsídio e não na utilização dos cereais na produção de bio-combustíveis, nem no aumento do consumo na Índia e na China. É sabido que grande parte dos orçamentos da União Europeia e dos Estados Unidos da América é gasto em subsídios à agricultura.

Na Europa existe a Política Agrícola Comum (PAC) que tem os seus primórdios no pós 2.ª Guerra Mundial, em que as actividades agrícolas foram substituídas pela indústria bélica. Vivia-se numa época de escassez de alimentos, pelo que os incentivos eram bem-vindos. No entanto, a produção agrícola cresceu tanto que se tornou um problema, começou-se a criar quotas e a subsidiar os agricultores para não produzirem. Ainda me lembro de ir à aldeia com os meus país e ver os agricultores a quererem comprar mais terras para nada produzirem nelas e para receberem o tal subsídio. Os subsídios mantiveram o preço dos produtos em níveis extremamente baixos, impossíveis de alcançar sem o dito, levando a Europa (grandes latifundiários Espanhóis, Franceses e Alemães) a competir no mercado internacional com preços excepcionais. Actualmente, a PAC é um fracasso, cada vez absorve mais dinheiro do orçamento europeu e a agricultura europeia é pouco eficiente e criadora de desequilíbrios mundiais. O mesmo aconteceu no outro lado do oceano, os Estados Unidos da América também subsidiaram as suas produções e os preços nos mercados internos e internacionais estiveram em níveis extremamente baixos, pois a produção visava aumentar o subsídio recebido e não satisfazer a procura.

Os agricultores europeus estavam contentes e os americanos também e tudo ia bem neste globo bipartido em que o Japão de vez em quando também tem uma palavra a dizer. O problema apareceu no mundo subdesenvolvido, que se debate com a falta de recursos e/ou o favorecimento de uma elite em relação à maioria da população. A produção agrícola nestes países deixou de ser rentável, os preços altamente subsidiados levou á ruína dos agricultores, que de produtores passaram a consumidores. Por exemplo, o Haiti na década de 70 era auto-suficiente na produção de arroz, agora apresenta um défice comercial brutal e face à nova conjuntura de alta dos preços, existem pessoas a passar neste país . Outro exemplo flagrante são as ajudas ao desenvolvimento, os Estados Unidos da América fornecem milhares de géneros alimentícios aos países pobres, estes alimentos são comprados aos agricultores americanos e depois dados aos países pobres. Face a esta situação, não existe agricultura que resista nestes países, muito pelo contrário. O mais escandaloso é que o transporte destes alimentos é mais dispendioso do que os potenciais apoios necessários à manutenção de um nível de produção aceitável nestes países. O objectivo é destruir a produção agrícola nestes países, torná-los dependentes das grandes economias em vez de os ajudar a serem auto-suficientes, ou menos dependentes e serem capazes de responder às crises. As (poucas) estruturas produtivas destes países em subdesenvolvimento estão destruídas e actulamente a fome está instalada. A agricultura no mundo subdesenvolvido foi abandonada há muito tempo.

O cenário actual foi criado pelo subsídio, não existe uma ordem global, mas sim os países ricos a produzirem tudo e os pobres sem qualquer espaço para se afirmarem. Os sectores alimentares são os únicos em que eles poderiam rivalizar e lutar por um lugar na ordem internacional, mas estão condicionados pelos subsídios.

O subsídio é uma doença que nos consome, quanto mais temos mais queremos, o subsídio não deixa o mercado funcionar. Vejamos o exemplo dos subsídios aos combustíveis, leva a que o consumo não seja racional, as pessoas vão consumir mais do que o que devem e o preço limita o investimento em energias alternativas. Ninguém vai investir na criação de novas energias se o crude tiver um preço baixo, pois nunca se irá recuperar o esforço do investimento. O subsídio leva ao excesso de carros na estrada (exemplo da Venezuela), não permite o desenvolvimento de um sistema de transportes públicos, leva a uma redução da qualidade de vida das pessoas.

O preço é a melhor ferramenta para a inovação e para o investimento. Preço elevado quando existe escassez e preço reduzido quando existe excesso. O mercado ao funcionar, os recursos vão ser utilizados na produção dos bens escassos e abandonados os bens onde existe excesso de produção. Se o preço fosse livre, o agricultor Haitiano podia continuar com a sua cultura e até aumentar a sua produção, não se verificando a falta de alimentos e passava a existir uma verdadeira economia neste país, que deixava de depender dos tão “bem intencionados” americanos.

Vamos acabar com os subsídios, são injustos, imorais e pouco dignos para todos. Se as matérias-primas estão mais caras, o preço tem que reflectir isso. Mais tarde ou mais cedo alguém tem que pagar e não são os pobres é o mundo. As potências mundiais destroem as economias locais dos mais pobres e depois criam regras restritivas à emigração e falsos apoios ao desenvolvimento, que mais não são do que meios para conseguir os seus intentos. Mas afinal que mundo é que estamos a criar.

Etiquetas: , , , ,

domingo, junho 01, 2008

EURO 2008 e EXPO 98


Estou a escrever este post no dia em que o avião da TAP está à espera de ordens para levantar com destino à Suiça, o Marcelo Rebelo de Sousa, perito a analisar o fenómeno sociológico que rodeia a selecção, está a dizer as patetices do costume, uns parolos estão gritar pela selecção algures junto do aeroporto e a RTP a transmitir tudo isto. Enfim, nada podia ser pior.

Hoje eu gostaria falar do 10.º Aniversário da Exposição Mundial que se realizou em Portugal no ano de 1998, mais comummente conhecida por EXPO 98, que tem alguma relação com o fenómeno futebolístico, nomeadamente com o EURO 2004 que foi realizado em Portugal. A ligação entre estes dois fenómenos, um cultural e outro popularuxo (eu recuso-me a dizer que o futebol é cultura), é que ambos consumiram grandes recursos nacionais e foram fenómenos de massa.

A EXPO 98 foi um acontecimento cultural sem precedentes em Portugal, tendo permitido a recuperação de uma parte abandonada da cidade de Lisboa. Ainda me lembro de ter usufruído de 3 óptimos dias no parque das nações. Eu com 17 anos, após os exames nacionais para a entrada na faculdade lá fui com mais 2 amigos para a mouraria (nem quero fazer comentários sobre a local escolhido) visitar a grande exposição mundial. O impacto foi tão grande que ainda hoje me lembro de jogar numa slot machine no pavilhão de Macau, de estar em pleno alto mar num barco Croata, de me fascinar com o Aquamatrix, de brincar e aprender no pavilhão da Água, de entrar numa viagem pelo futuro no pavilhão com o mesmo nome, de admirar o Eusébio e a Amália no Oceanário e do espectáculo soberbo com o título Oceanos e Utopias no denominado Pavilhão da Utopia (agora Pavilhão Atlântico).

Nesse dia fiquei fã de Portugal, achei que tínhamos dado um salto para o futuro, tudo estava bem organizado, sentia-se competência e qualidade, senti o orgulho em ser português, em ser dono e um passado glorioso no conhecimento dos mares. Tive um sentimento de tal maneira extraordinário que voltei mais 2 vezes àquele perímetro alheio ao chico esperto sem opinião, maldizente, desdentado e que abre a boca só para dizer um conjunto de impropérios. Mas já se passaram 10 anos deste grande evento, acho que já estamos a precisar de outra exposição mundial, algo que nos faça mais ricos em termos intelectuais, algo positivo.

Aqui é que chegamos ao cerne da questão, o futebol é ‘o que está a dar’. Em nome do futebol gasta-se fortunas, constroem-se uns elefantes brancos (estádios de futebol) que consomem uns milhares de euros todos os meses em manutenção e a população continua a não saber o que se comemora no 25 de Abril, mas sabe na ponta da língua quantos golos o menino Cristianinho (coitadinho que falhou um penalti na final da liga dos campeões) marcou nesta época.

O mundo está ao contrário, a televisão publica gasta o dinheiro dos meus impostos para transmitir em directo a recepção que o presidente da republica fez aos jogadores, filma a chegada ao aeroporto, a partida do avião e daqui a nada mostra a chegada à Suiça. Eu também sou patriota, mas vamos relativizar as coisas, vamos dar importância ao que é importante, eu teria gosto que Portugal fizesse boa figura no europeu, mas preferia que o número de pobres fosse reduzido para metade, que toda a gente tivesse empregos qualificados, que se investisse no desenvolvimento de energias alternativas, que o meu país tivsse uma faculdade no top 100 mundial, tanta coisa onde gastar dinheiro e nós andamos nisto. Até o Marcelo Rebelo de Sousa, tido por muitos como um ícone de cultura nacional, é convidado para comentar a chegada dos jogadores ao aeroporto, e lá formula mais uma das suas teorias baseadas em sonhos mirabolantes em vez de em factos concretos. Eu até o considero um génio da especulação e por vezes acho piada aos filmes que faz, mas ele leva as pessoas atrás dele, ele movimenta massas, o que é perigoso, já que estamos a levar Portugal a acreditar que o futebol é o que interessa.

Queremos outra EXPO já!!! Por favor, vamos colocar a cultura, o conhecimento à frente do futebol. Já realizamos o EURO 2004, agora é a vez de outra exposição mundial, confesso que me dá arrepios quando se fala em realizar o mundial de futebol juntamente com a Espanha. Vamos organizar outra exposição, reabilitar outras cidades portuguesas, vamos colocar os bilhetes a preços acessíveis, vamos premiar a arte de bem-fazer as coisas, 10 anos é muito tempo. Portugal, vamos acordar para o mundo.

Etiquetas: , ,

quinta-feira, maio 15, 2008

As Mamocas das Trabalhadoras do Hospital de S. João

Recentemente foi notícia o facto de as funcionárias do hospital de S. João no Porto constarem nas listas de espera para a realização de implantes mamários e que um número razoável de funcionárias já tinham realizado a dita operação. A notícia adiantava ainda, que estas cirurgias eram feitas à custa do erário público (certamente com a prescrição de algum médico do hospital) e assim que faltava um cidadão com uma cirurgia marcada (transplante de fígado, operação ás cataratas, etc…) lá iam mais umas mamocas novas para uma funcionária, não se respeitando a dita lista de espera.

Apesar de ser (mais) um caso típico de abuso de poder, eu acho que esta prática não devia ser proibida, mas sim devia realizar-se um case-study no hospital para estudar os benefícios de um hospital ter funcionárias tão fogosas. Na minha opinião traria muitos benefícios à saúde dos próprios doentes e ganhava-se muito em termos humanos.

O hospital passaria a ser uma revista da playboy viva, sendo um centro de culto de passagem obrigatória, em vez de um local frio e pouco aconchegante que toda a gente quer ficar a pelo menos uma milha de distância.

Aqui vão algumas vantagens:

i) os apreciadores desta publicação erótica poupavam uns euros no final do mês;
ii) os doentes idosos e abandonados numa cama de hospital passariam a ter pelo menos a visita dos membros masculinos da família;
iii) a senhora da recepção passava a levantar o olhar e a falar connosco nos olhos, de modo a evitar que um olhar mais malandreco descesse para as suas 2 amigas gémeas (grande progresso em termos humanos);
iv) diminuição dos ataques cardíacos masculinos, porque como diz o Júlio Machado Vaz, olhar um peito feminino durante uns minutos tem efeitos positivos sobre a saúde, porque o fluxo de sangue aumenta e as veias dilatam-se (efeito semelhante ao copo de vinho tinto, mas só que aqui é sem ressaca), enormes poupanlas em vidas humanas;
v) as salas de espera iam ficar mais animadas quando a senhora da limpeza passasse e até podia-se fazer apostas sobre o tempo que uma das suas saltitonas aguentava dentro do soutien, enquanto a senhora arrumava a mesinha das revistas com mais de 3 anos;
vi) ninguém reclamaria do tempo de espera das consultas e as horas pareciam minutos, toda a gente ficava feliz;
vii) aumentava a eficiência na limpeza das janelas, enquanto que os membros superiores limpavam as janelas mais altas, em baixo as 'nossas amigas' faziam o seu trabalho, podia diminuir-se o n.º de funcionárias nos hospitais;
viii) o sexo feminino também saí a ganhar, passariam a ter os amigos, os namorados e os cônjuges sempre disponíveis a acompanhá-las a uma visitinha ao hospital, imaginem como o ‘mercado’ masculino iria aumentar para as hipocondríacas.

Pois é, como diz o António Perez Metelo no seu comentário económico na TSF, “por todas estas razões” o estado devia incentivar e pagar implantes mamários a todas as funcionárias dos hospitais e impedir o exercício da medicina a mulheres com uma copa inferior ao 36. Ficariamos todos a ganhar, imaginem a economia de recursos que se conseguia.

De volta ao blog, espero que gostem do tópico.
Daniel Silva

Ps: Eu tinha uma imagem mais apelativa, mas não era condizente com um blog sério como este.