sexta-feira, agosto 25, 2006

(Im)Produtividade

Economia: (Im)Produtividade


Este artigo decorre do estudo realizado pelo Financial Times, que conclui que em Portugal trabalha-se demais e se produz de menos. Isto é, os outros, principalmente os americanos e os franceses, produzem mais em menos tempo. Este resultado não é novidade, todos nós pelo menos uma vez já ouvimos, pelo que é importante reflectir sobre estas conclusões e encontrar as suas causas. Cada um pode ter a sua explicação e eu tenho a minha, que passo a explicar.

Em economia são conhecidos 2 factores produtivos: o Capital e o Trabalho. Quando se fala em factor capital, normalmente associa-se a investimento em novas tecnologias. De uma forma simplista pode-se explicar o impacto deste factor na economia da seguinte forma: uma fabrica que utilize tecnologia de ponta consegue produzir mais com os mesmos trabalhadores do que se possuir maquinaria obsoleta. Certamente que ninguém questionará este facto, mas a questão não é assim tão simples e linear, existe outro factor importante para tornar possível a afirmação descrita: o factor trabalho.

Na minha opinião é o factor mais importante e no qual temos algum défice face aos países mais produtivos. Não estou a dizer com isto que temos em Portugal toda a tecnologia existente e que o paradigma do factor capital está resolvido. Mas se não tivermos profissionais com espírito inovador, atentos e dispostos a aplicar as novas tecnologias, a disponibilidade da inovação de nada ira contribuir para o nosso desenvolvimento. Tudo se resume a uma palavra: conhecimento. Se tivermos quadros capazes de aplicar o que de melhor se faz e com espírito inovador de procura de modos mais eficientes de produzir (por exemplo participar em feiras de mostra de tecnologia) podemos subir uns pontos no ranking da produtividade. Podemos ser os próprios sujeitos da inovação, e porque não sermos nós a estar na vanguarda na produção de novas tecnologias.

Mas para que isto aconteça é necessário actuar desde o início da formação dos futuros profissionais, processo que poderá demorar ainda alguns anos. A mudança não deverá só incidir pela reformulação do sistema de ensino, que na minha opinião é demasiado permissivo, mas também por um evoluir das mentalidades no seio de muitas famílias.

O sistema educativo privilegia um conhecimento do tipo: “decora, vomita e esquece”, não se tendo em atenção um processo de aprendizagem contínuo em que se procura a solidificação dos conhecimentos.

Porque é que não se substitui os 2 testes por período por testes semanais? Porque é que os trabalhos de casa em algumas disciplinas são ocasionais e não diários, funcionando como complemento à matéria dada na aula? Porque é que as matérias são estanques e não se aplica o conceito de avaliação continua? Porque é que para passar só é necessário ter 50% dos conhecimentos e não 70% ou 75%? Julgo que o objectivo dos programas é o aluno adquirir um conjunto de conhecimentos e competências, não 50% das mesmas, que em muitas vezes é esticado ao máximo para dar para a positiva.

A culta é de todos nós, nós enquanto família e enquanto professores. Aceitamos de bom grado vermos os nossos miúdos passar à rasca, sem qualquer tipo de conhecimentos. Achamos que os malvados dos professores exigem muito das criancinhas, a televisão e a playstation substituem-nos no nosso papel enquanto educadores e passar com duas negativas é normal, todos passam assim. Depois existe a responsabilidade dos professores que esticam as notas para o 50% ou para o 10 (sistema de 0 a 20), porque é mais cómodo passar os alunos do que explicar a reprovação por falta de conhecimentos, e porque afinal todos os outros fazem e havia eu de me chatear com isto. Entra-se assim num ciclo vicioso em que se premeia a preguiça de alunos, professores e país.

No final temos a nossa sociedade, em que existe um desinteresse total pelo que se faz de novo, e a ideia de porque é que hei-de melhorar quando tudo no passado se fez assim e funcionou. Não somos capazes de absorver as tecnologias que se encontram disponíveis, porque nos falta espírito de inovação e conhecimento, qualquer coisa nova é complicadíssima de implementar, porque não temos capacidade para a entender e de ver os seus benefícios. Com a evolução das tecnologias de informação é fácil saber o que os outros fazem, simplesmente temos que entender e fazer igual ou melhor. O problema do Capital está resolvido falta é melhorar o factor Trabalho.